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Movimentos acusam autarquia de não ter estratégia para a cultura
Atrasos no pagamento de subsídios, inexistência de espaços para ensaiar e falta de ligação entre a autarquia e os agentes culturais da cidade. Estas foram apenas três das muitas acusações que Carlos Encarnação ouviu num debate sobre a política cultural da Câmara, acusada de não ter estratégia para o sector

O debate promovido pelo Grupo da Cultura do Conselho da Cidade sobre a política cultural da autarquia de Coimbra foi fértil em acusações ao executivo de Carlos Encarnação, que não teve “palavras a medir” para responder às inúmeras confrontações de que foi alvo por parte de representantes, entre outros, de movimentos ligados ao teatro, à música e ao cinema.
A falta de apoios, de cedência de espaços para ensaios, de ligação e de cooperação com o mundo artístico e o incumprimento dos protocolos e dos pagamentos das verbas orçamentadas foram algumas das muitas queixas apresentadas pelos representantes dos vários movimentos artísticos da cidade, que esgotaram, anteontem à noite, a sala da Casa Municipal da Cultura.
Os presentes garantiram que a autarquia de Coimbra não tem uma estratégia cultural, acusando o executivo camarário de não apostar na cultura como modelo de desenvolvimento e deixando exemplos de situações em que a falta de política para a cultura foi notória.
Carlos Encarnação lembrou que «o município só deve ajudar ou criar condições», acrescentando ser fundamental «seccionar o que são actividades profissionais ou amadoras, porque o apoio também é diferente». Com várias críticas coleccionadas, o líder autárquico não deixou de fazer as suas.
«O Estado fez investimentos colossais em Lisboa e no Porto», afirmou, para logo dizer que «a Câmara não pode arcar com todas as responsabilidades». Segundo o presidente, a autarquia «não pode ser dona da política cultural», lamentando não poder suportar todos os custos.

Oito milhões investidos em infra-estruturas culturais

Considerando o Teatro Académico Gil Vicente (TAGV) como «a única casa de teatro que temos em Coimbra construída pelo Governo no Antigo Regime», Carlos Encarnação, que disse ter investido, nos últimos quatro anos, oito milhões de euros em infra-estruturas, acrescentou que «a democracia, desde lá para cá, construiu zero infra-estruturas culturais» na cidade.
A construção do Teatro da Cerca de S. Bernardo, da Oficina Municipal do Teatro e do Centro de Artes Visuais são exemplos dos investimentos autárquicos, aos quais, acrescentou o presidente da Câmara, se juntam a adaptação do Museu dos Transportes à prática teatral.
A aquisição das casas dos poetas João Cochofel, para a instalação da Casa da Escrita, e Miguel Torga, para a criação de um centro de estudos torguianos, também foram apostas concretizadas durante a presidência de Carlos Encarnação, que assegurou ter ainda deliberado «protocolos com várias companhias profissionais de teatro». «A autarquia tem tido a iniciativa de criar infra-estruturas, mas não pode financiar todas», explicou, antes de dar o exemplo do TAGV em que «a Câmara assumiu que não podia continuar». «Face aos recursos disponíveis temos de saber a quem os vamos entregar e repartir responsabilidades por todos», garantiu.

Conservatório de Música
dependente do Governo
Em noite de troca de acusações, Carlos Encarnação desabafou que «o mundo cultural não pode reduzir-se a um conjunto de pessoas que acha que são mais importantes que outros, existindo outros agentes culturais a fazerem muito por Coimbra sem pedirem nada», dizendo ainda não ter espaço para todos e mostrando-se disponível para acolher propostas para partilha de espaços.
Com o “alvo” bem definido, a assistência voltou à carga, acusando o presidente de falta de um plano estratégico para a consolidação dos projectos profissionais e para a formação em dança e artes plásticas, o que trouxe à baila a construção do Conservatório de Música de Coimbra, que, recorde-se, tem sofrido sucessivos adiamentos.
«Temos feito uma pressão persistente e clara sobre o Governo. Dissemos ao Ministério da Educação que damos o terreno e pagamos metade do projecto, mas o Governo ainda não disse nada», divulgou Carlos Encarnação, que explicou as razões da escolha de Guimarães em detrimento de Coimbra para Capital Europeia da Cultura em 2012.
«Reunimos com o Governo e percebemos logo que não vinha para Coimbra», esclareceu o líder autárquico, que manifestou estranheza pelo facto de António Pedro Pita, delegado regional da Cultura do Centro, estar ausente de um debate sobre questões culturais.

João Henriques

DIÁRIO DE COIMBRA 18/ABRIL/2007