Teatro da Cerca de São Bernardo - esclarecimento público
As “exigências” d’A Escola da Noite

Em declarações publicadas no Jornal de Notícias de ontem, o Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra afirmou estar à espera que A Escola da Noite aceite a proposta da autarquia para a utilização do Teatro da Cerca de São Bernardo. Acrescentou ainda que não haveria “mais cedências” por parte da autarquia nas negociações do respectivo protocolo.
Não há outra maneira de encarar esta declaração: o senhor Vereador da Cultura tenta enganar a opinião pública. para justificar o facto de o Teatro não estar ainda a funcionar devidamente nem estar a cumprir a função para a qual foi construído: alojar A Escola da Noite.

Neste sentido, cumpre-nos esclarecer o seguinte:
1.Na fase final das “negociações” estavam em cima da mesa duas propostas de protocolos independentes apresentadas pela CMC: o protocolo de apoio à criação artística, que nos garante o direito de ensaiar e apresentar os nossos espectáculos no novo Teatro durante 32 semanas por ano; e o protocolo de gestão e programação, que define a entidade responsável pela administração global do Teatro e pela definição e concretização da programação externa durante as restantes 20 semanas.
2.Em carta enviada no passado mês de Junho, A Escola da Noite aceitou todas as condições impostas pela Câmara Municipal no protocolo de apoio à criação artística, o que viabiliza, no imediato, a instalação da companhia no Teatro.
3.Em relação à proposta da CMC para o protocolo de gestão, e apesar de manter o interesse em assegurar a prestação deste serviço, a companhia entendeu não estarem reunidas as condições necessárias para o aceitar: a CMC recusou qualquer comparticipação nas despesas de programação, asseguraria menos de metade dos custos com energia eléctrica e, por último, nem sequer nos permitiria utilizar o espaço de escritório, reservado a uma equipa de funcionários autárquicos com a única missão de fiscalizar o nosso trabalho.
4.Neste cenário, a CMC fica livre para assumir ela própria a gestão/programação do Teatro ou para contratualizar esse serviço com outra entidade. Nenhuma das soluções impede a imediata mudança da companhia, ao abrigo do protocolo de apoio à criação artística, cuja proposta aceitámos na íntegra.
5.Para além de, há mais de quatro meses, termos comunicado esta aceitação, solicitámos que o protocolo fosse assinado “com a maior urgência, de forma a viabilizar a mudança da companhia no mais curto espaço de tempo possível”.
6.Passados estes quatro meses, a Câmara não só não nos respondeu como vem publicamente afirmar que é por nossa causa, e por causa das nossas exigências, que a mudança ainda não se fez.
7.Ao contrário do que afirma o Vereador da Cultura, é a Câmara que está a impedir a nossa instalação no novo Teatro, mesmo tendo a companhia aceitado, sem restrições, a proposta de protocolo apresentada pela autarquia.
8.Entre as condições aceites pela companhia, incluem-se vários constrangimentos, que nos colocam em pior situação do que aquela em que estamos actualmente na Oficina Municipal do Teatro, a saber: uma redução de 20% no valor do apoio financeiro anual à nossa actividade; uma redução do prazo de vigência do protocolo de utilização do espaço (de 10 para 4 anos); a obrigatoriedade de comparticiparmos nas despesas com a energia eléctrica; uma redução do tempo de utilização do Teatro (32 semanas por ano); e a impossibilidade de utilizar o espaço de escritório para os nossos serviços administrativos.
9.Não só não estamos a fazer exigências, portanto, como fizemos várias e significativas cedências, de forma a viabilizar a obtenção de um acordo e o desbloquear da situação.
10.A CMC, pelo contrário, sempre conduziu as supostas “negociações” com prepotência e má-fé, gerindo e prolongando estrategicamente os seus prazos de resposta, mostrando-se inflexível nas suas posições e tentando passar a ideia de que o impasse se devia às “exigências” d’A Escola da Noite.
11.Perante a posição de força adoptada pela CMC, que nunca sequer se dignou discutir os argumentos que apresentámos ao longo das “negociações”, não nos restou outra alternativa senão aceitar a proposta da autarquia, ainda que conscientes de que não se trata do acordo que melhor serve os interesses do Teatro e da cidade.
12.Em face do exposto, e já que não o quer fazer perante a companhia, cumpre à Câmara Municipal de Coimbra esclarecer publicamente o seguinte:

a. Por que razão não assinou ainda o protocolo que ela própria nos propôs?

b. Por que razão não quer que A Escola da Noite se instale no novo Teatro?

c. Por que razão fez tudo o que podia para nos obrigar a recusar as suas condições, de tal modo que, mesmo tendo elas sido aceites, continua a fingir que desconhece a nossa posição?

13.Esperamos que agora, com a ajuda da comunicação social, o senhor Vereador perceba finalmente o que se passou:
- Dr. Mário Nunes, NÓS ACEITÁMOS as vossas condições. A-CEI-TÁ-MOS!

14.Neste contexto, toda e qualquer actividade agendada pela CMC para o Teatro até à assinatura do protocolo será entendida como uma tentativa de impedir que A Escola da Noite efectue a sua mudança e, em consequência, como uma gravosa e injustificada contradição em relação à missão para a qual ele foi construído.

A Escola da Noite

Coimbra, 11 de Outubro de 2007.

 

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